O enquadramento ético e político do Mercado : Reflexões programáticas para uma Socioeconomia Prática

Resumo: As abordagens socioeconómicas, segundo o autor do artigo, são particularmente adequadas para uma superação do racionalismo económico inerente à economia neoclássica "pura". Pretendendo esboçar cinco etapas de compreensão em ordem a tornar possível uma nova abordagem à realidade da economia, o artigo começa por alertar para o perigo que seria deitar fora o "bebé" da racionalidade económica juntamente com a água do economicismo, ou seja, faz-nos cair na conta do perigo que seria transformar a ciência da economia numa mera sociologia da vida económica. Neste caso, com efeito, o determinismo da economia, centrado numa visão que faz do ser humano um mero agente económico orientado para a maximização do lucro, daria apenas lugar ao determinismo sociológico, ou seja, ao exagero de uma concepção supersocializada do ser humano. Assim, em ordem a sugerir uma porta de saída para esta alternativa equivocada, o artigo sugere, entre outras coisas, a necessidade de se proceder, com base numa sólida filosofia política e na regulamentação ética da actividade económica, a uma viragem pragmática da socioeconomia. No final de contas, é com base na praxis que a socioeconomia tenta justificar os seus próprios princípios de orientação e, desse modo, expor caminhos viáveis para o desenvolvimento de uma economia fundada na razão e enquadrada numa sociedade bem ordenada de cidadãos livres e iguais.

Sobre a Pertinência e a Praxis do Saber. Ed. J.J. Vila-Cha, pp. 173-196

(Die ethische und politische Einbettung des Marktes. Programmatische Überlegungen zu einer Praktischen Sozialökonomie. - In portugiesischer Sprache)

RESUMO: As abordagens socioeconómicas, segundo o autor do artigo, são particularmente adequadas para uma superação do racionalismo económico inerente à economia neoclássica "pura". Pretendendo esboçar cinco etapas de compreensão em ordem a tornar possível uma nova abordagem à realidade da economia, o artigo começa por alertar para o perigo que seria deitar fora o "bebé" da racionalidade económica junta-mente com a água do economicismo, ou seja, faz-nos cair na conta do perigo que seria transformar a ciência da economia numa mera sociologia da vida económica. Neste caso, com efeito, o determinismo da economia, centrado numa visão que faz do ser humano um mero agente económico orientado para a maximização do lucro, daria apenas lugar ao determinismo sociológico, ou seja, ao exagero de uma con-
cepção supersocializada do ser humano. Assim, em ordem a sugerir uma porta de saída para esta alternativa equivocada, o artigo sugere, entre outras coisas, a necessidade de se proceder, com base numa sólida filosofia política e na regulamentação ética da actividade económica, a uma viragem pragmática da socioeconomia. No final de contas, é com base na praxis que a socioeconomia tenta justificar os seus próprios princípios de orientação e, desse modo, expor caminhos viáveis para o desenvolvimento de uma economia fundada na razão e enquadrada numa sociedade bem ordenada de cidadãos livres e iguais.

ABSTRACT: To get past the economic rationalism of "pure" neoclassical economics, a socio-economic approach may be appropriate. There is a danger, however, that the baby of economic rationality is thrown out with the bathwater of economicism and only the sociology of economic life remains. Economic determinism (i.e. the benefit-maximizing economic man) would be replaced by sociologic determinism (i.e. an oversocialized conception of man). To escape this bad alternative, socio-economics needs a practical turn: it has to be founded on political philosophy and economic ethics. On this base, practical socio-economics could justify guiding principles andexplain ways of a reasonable economy embedded into a well-ordered society of free and equal citizens. This paper outlines five mental steps toward such an approach.